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“Uma tragédia pode ficar pior? Pode, sem dúvida.
O empresário vitimado por mais um golpe da saidinha, no
começo da tarde de ontem, em bairro central da cidade, foi alvejado duas vezes
nas costas provavelmente apenas porque os assaltantes acharam que ele não se
renderia. Os criminosos fugiram sem levar o dinheiro.

Segundo relato de um dos policiais que prestaram
socorro ao rapaz, e que chegou ao meu conhecimento através da esposa do
militar, foi por causa da demora da ambulância que a equipe decidiu levá-lo ao
hospital na viatura da PM. Contudo, uma vez na porta do hospital (um dos mais
famosos da cidade), um médico (ou mais de um, não sei tal detalhe) impediu a
entrada do paciente. Ao ver um homem baleado dentro de uma viatura da PM,
entendeu que era um “bandido” e não queria “confusão” ali.

Os policiais explicaram que ele era a vítima, que
possuía plano de saúde e ele mesmo pedira para ser levado para aquele hospital.
Nem assim o profissional mudou de ideia e recomendou que levassem o ferido para
o Pronto Socorro. Um dos castrenses ameaçou dar voz de prisão ao médico, mas na
pressa em socorrer a vítima, os policiais entraram no hospital e voltaram com
uma maca. A essa altura, contudo, o empresário já estava morto.

Cogita-se que os familiares cobrarão
responsabilidades do hospital. Acho bom que o façam, mesmo. É difícil avaliar o
quanto a demora no atendimento impediu que o rapaz fosse salvo, mas a
causalidade soa meio óbvia na cabeça de qualquer um. Demora da ambulância,
embaraços no hospital. Some os fatores e perceba como estamos desamparados.

Para terminar este lamento, uma última provocação:
o motivo de recusar um paciente baleado, trazido pela PM, talvez não seja a
dicotomia 
mocinho vs. bandido que a nossa sociedade insiste em
proclamar. Ela pode residir numa questão muito mais prosaica: esse que está aí
tem dinheiro para me pagar?

Estou chocado com tudo. Com tudo mesmo.
(Do advogado Yúdice Andrade,
em seu blog Arbítrio do Yúdice)
Franssinete Florenzano
Jornalista e advogada, membro da Academia Paraense de Jornalismo, da Academia Paraense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, da Associação Brasileira de Jornalistas de Turismo e do Instituto Histórico e Geográfico do Tapajós, editora geral do portal Uruá-Tapera e consultora da Alepa. Filiada ao Sinjor Pará, à Fenaj e à Fij.

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