O poeta, escritor e professor carioca Antonio Cicero, imortal da Academia Brasileira de Letras e grande letrista da MPB, se foi, hoje (23), aos 79 anos. Diagnosticado com Alzheimer há alguns anos, passou por diversas internações e optou pela eutanásia em Zurique, na Suíça, ao lado de seu parceiro, Marcelo Fies.
Com formação em filosofia no Brasil e no exterior no exílio durante a ditadura militar, Cicero era irmão da cantora Marina Lima e compôs para ela as letras de “Fullgás”, “Charme do Mundo” e “Pra Começar”. Criou “À Francesa”, com Claudio Zoli, e “O Último Romântico” com Lulu Santos e Sérgio Souza. Adriana Calcanhotto popularizou seu poema “Maresia” e ele fez parcerias literárias fantásticas com escritores contemporâneos como Waly Salomão. Também atuou como colunista da Folha entre 2007 e 2010. Entre suas obras publicadas estão os livros de poesia “A Cidade e os Livros” e “Porventura”, além de ensaios como “Finalidades sem Fim”, indicado ao Prêmio Jabuti. A Companhia das Letras publicará em 2025 sua última obra de ensaios, intitulada “O Eterno Agora”.
Antonio Cícero se despediu em uma carta emocionante, publicada pela ABL. Confiram:
“Encontro-me na Suíça, prestes a praticar eutanásia. O que ocorre é que minha vida se tornou insuportável. Estou sofrendo de Alzheimer. Assim, não me lembro sequer de algumas coisas que ocorreram não apenas no passado remoto, mas mesmo de coisas que ocorreram ontem. Exceto os amigos mais íntimos, como vocês, não mais reconheço muitas pessoas que encontro na rua e com as quais já convivi. Não consigo mais escrever bons poemas nem bons ensaios de filosofia. Não consigo me concentrar nem mesmo para ler, que era a coisa de que eu mais gostava no mundo. Apesar de tudo isso, ainda estou lúcido bastante para reconhecer minha terrível situação. A convivência com vocês, meus amigos, era uma das coisas – senão a coisa mais importante da minha vida. Hoje, do jeito em que me encontro, fico até com vergonha de reencontrá-los.
Pois bem, como sou ateu desde a adolescência, tenho consciência de que quem decide se minha vida vale a pena ou não sou eu mesmo. Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade. Eu os amo muito e lhes envio muitos beijos e abraços! – Antonio Cicero, 2024”.
Paz à sua alma!
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